domingo, 8 de junho de 2008

Todos queres casar



Existe um lugar, único no mundo, onde podemos obter a satisfação imediata de todas as nossas necessidades: o útero da mãe. Desconhecemos a fome, a sede, a falta de aconchego. Mas nascemos. Precisamos respirar com nossos próprios pulmões, reclamar da fralda molhada, nos desesperarmos com as cólicas. Somos tomados por um profundo sentimento de falta.
Uma angustiante sensação de desamparo nos invade. Sem retorno ao estágio anterior, isso nos acompanhará por toda a vida.
Quando nascemos, somos introduzidos num mundo com padrões de comportamento claramente estabelecidos. Inicia-se o processo de socialização. Os desejos espontâneos são gradualmente substituídos pelos que aprendemos a desejar. Nos comportamos e agimos de acordo com a expectativa social.
A partir daí todos se tornam parecidos. As singularidades não mais existem. O condicionamento cultural impõe como única forma de atenuar o desamparo uma relação fixa e estável: O CASAMENTO Assim, todos desejam se casar. Ninguém questiona se é mesmo a única forma de realização afectiva. O casal constrói uma tela de protecção contra o mundo e tenta reaver o paraíso simbiótico que tinha no útero da mãe. Ilusão que dura pouco, incapaz de se sustentar na realidade do quotidiano.

Leandro Milú

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